Retrospectiva Duro de Matar (parte 1 de 3)

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Essa retrospectiva não tem um motivo específico de ser. Foi encorajada pela enésima vez que assisti ao primeiro filme outro dia no FX, que por sua vez foi encorajada pela minha atual falta do que fazer, que por sua vez foi encorajada pela minha atual situação de desempregado. Aproveite!

O primeiro, o clássico

O primeiro, o clássico

Em 1988, quando o auge do cinema de ação americano se baseava nos brucutus como Schwarzenegger e Stallone, surgia um filme que mudaria a forma como o público via esse tipo de herói: Duro de Matar estreou e nos apresentou a John McClane.

Ao contrário de Rambo, Conan, Robocop e outros, McClane era um cara como qualquer um. Não era uma montanha de músculos, nem um profissional, como os terroristas que ele enfrenta no filme. Tinha entradas no cabelo e problemas matrimoniais. Basicamente, era um cara comum que tentava se reconectar com sua esposa e que lutou mesmo com uma situação e probabilidades nada animadoras. Não, McClane não era feito de músculos, era feito de garra. E, ao contrário de todos os outros heróis da época, demonstrava medo (o próprio pôster do filme, acima, mostra o susto na cara do personagem). No final, era isso que REALMENTE fazia dele um cara comum.

O ótimo roteiro do filme (que, pra quem não sabe, foi baseado em um livro, Nothing Lasts Forever, de Roderick Thorp) não só apresentava espetaculares cenas de ação, mas se segurava principalmente nos personagens, em seus diálogos e relacionamentos. Podemos realmente sentir a amizade e camaradagem de McClane com Powell, o policial que está sempre lá para apoiá-lo moralmente. Sem Powell, McClane talvez não tivesse tido forças para ir até o final. E isso culmina na ótima cena quando os dois finalmente se vêem cara a cara e se reconhecem instantaneamente, como se já fossem amigos há anos.

Mas a genialidade do roteiro poderia ter sido desperdiçada com o diretor e elenco errados. Nas mãos hábeis do competente diretor John McTiernan (que já havia dirigido Predador), Bruce Willis claramente se mostra ser a escolha mais perfeita para interpretar o personagem. Ele consegue com extrema facilidade levar o personagem de uma posição confiante (“Agora eu tenho uma metralhadora. Ho-ho-ho!”) para hesitante (“Deus, não me deixe morrer.”). Era heróico, mas também se questionava. Digam o que quiserem sobre o talento de Willis (ou, segundo alguns, a falta de), mas é inegável que um personagem como McClane não é para qualquer ator. Do outro lado, Alan Rickman dá um show como o ganancioso Hans Gruber, o brilhante ladrão que não contava com McClane para atrapalhar seus planos. Rickman é classudo e exagerado como sempre, mas daquela forma boa como apenas poucos conseguem.

Esses e vários outros motivos levaram Duro de Matar a se tornar um sucesso de bilheteria e um clássico do cinema de ação, sendo considerado por muitos (como eu) o melhor exemplar do gênero.

Assim, uma continuação pareceu apenas uma questão de tempo. Dois anos depois do original, Duro de Matar 2 (que ganhou o subtítulo Die Harder em inglês) tinha a nada invejável tarefa de tentar superar um clássico. O que seria bem mais difícil com o péssimo Renny Harlin (de “clássicos” como A Ilha da Garganta Cortada e Alta Velocidade) na direção.

O segundo, o marromenos

O segundo, o marromenos

Não deu tão certo.

Não que o filme fosse de todo ruim. Baseado no livro 58 Minutes, de Walter Wager, Duro de Matar 2 é bastante divertido, mas faltou nele o que o primeiro tinha de sobra: coração. Ah, sim, e um roteiro. A história geral do filme (em que terroristas “seqüestram” o controle aéreo de um aeroporto, colocando em risco todos os aviões esperando para pousar, com Holly, a esposa de McClane, em um deles) é até interessante, mas apresenta muitas improbabilidades e furos de roteiro.

Pra piorar, o filme parecia não saber o que queria ser. É em partes uma cópia carbono do primeiro, sendo na época de natal, com Holly como refém, McClane se arrastando novamente por dutos de ventilação… Até o próprio reclama: “Como é que a mesma merda pode acontecer com o mesmo cara duas vezes?”

De novo, cara?

De novo, cara?

Mas, ao mesmo tempo, tem alguns dos toques mais originais da série. Pela primeira e única vez, o plano maior dos vilões não é simplesmente um roubo milionário disfarçado por um seqüestro ou explosões como nos outros filmes: eles estão lá para libertar um prisioneiro militar, um ex-general e traficante de um país fictício da América Central. O problema é que o plano deles para fazer isso simplesmente não funcionaria se você parar pra pensar por mais de um minuto.

E em nenhum aspecto sequer essa continuação supera o original. Os vilões não tem metade da personalidade de Hans Gruber. A culpa disto está principalmente no roteiro, que não aprofunda suas motivações o bastante. Qual a relação, afinal, entre o coronel Stewart e o general Esperanza? Além dos vilões, nenhum dos sidekicks de McClane tem o mesmo destaque (ou carisma) de Al Powell.

Mas apesar de todos os problemas, o filme consegue divertir bastante. John McClane ainda é John McClane, e isso é sempre bom. Duro de Matar 2 acabou sendo um sucesso de bilheteria ainda maior do que o original, mas a diminuição de qualidade foi sentida, e uma continuação só viria cinco anos depois, com John McTiernan de volta como diretor.

Na segunda parte dessa retrospectiva, falarei dos outros filmes da série, que dividiram opiniões, mas de qualquer jeito não se equipararam ao clássico primeiro.

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